top of page

Desconstruindo Diagnósticos: Uma Perspectiva Psicológica sobre a Experiência Humana



Navegar pelos labirintos da mente humana muitas vezes nos leva a uma encruzilhada onde a descrição exata e meticulosa de nossas experiências é essencial, mas nem sempre suficiente. A topografia dos sintomas, como apresentada nos manuais diagnósticos, pode deixar de lado a compreensão funcional do que verdadeiramente observamos. Mais ainda, ela nos leva a um segundo dilema: a patologização excessiva das experiências humanas.

Uma desvantagem significativa de depender desses critérios diagnósticos na Psicologia é a propensão à criação de explicações tautológicas. Por exemplo, uma pessoa diagnosticada com depressão muitas vezes encontra na doença uma explicação aparentemente satisfatória para seus sentimentos de tristeza e desânimo: "Por que você está triste e desanimado?" "Porque estou com depressão." No entanto, ao inverter a pergunta, retornamos ao ponto de partida: "Como você sabe que está com depressão?" "Porque estou triste e desanimado." Esse padrão se repete em diversos transtornos, como no caso do TDAH: "Por que seu filho é tão agitado?" "Porque ele tem TDAH." "E como você sabe que ele tem TDAH?" "Porque ele é muito agitado!"

Nesse tipo de modelo circular e mentalista, as doenças mentais são concebidas como entidades separadas que se apossam do corpo e controlam os pensamentos e emoções. A partir dessa perspectiva, parece haver pouca margem para intervenção. Como Skinner já apontava, tais explicações desviam nossa atenção das contingências que contribuem para o surgimento do sofrimento, ou seja, deixamos de considerar as condições que evocam e perpetuam o sofrimento. Perdemos de vista as relações entre a pessoa que sofre e o ambiente no qual o sofrimento se manifesta.

Ao retratar emoções, sentimentos e pensamentos como simples sintomas de doenças mentais, caímos na armadilha de tentar eliminá-los a todo custo. No entanto, pesquisas demonstram que uma das principais fontes de nosso sofrimento reside justamente na tentativa de controlar o que ocorre dentro de nós. Este é o paradoxo do controle: ao tentar domar nossos pensamentos e emoções, não apenas falhamos, como também intensificamos nossa angústia. Mesmo quando alcançamos algum controle temporário, isso não garante uma vida mais satisfatória.

Fusão com nossos próprios pensamentos, esquiva das experiências emocionais, falta de contato com o momento presente e um apego excessivo a uma noção fixa de nós mesmos são padrões comuns. Também é comum a falta de clareza e compromisso com nossos valores, o que se traduz em inércia, procrastinação ou impulsividade diante das escolhas da vida.

Para transcender esses padrões limitantes, é crucial trabalhar a aceitação e a desfusão cognitiva. Ao abrir espaço para as múltiplas dimensões de nossa experiência privada, podemos promover uma maior variedade de comportamentos. Desenvolver habilidades de atenção através de um contato mais profundo com o momento presente nos permite adotar uma perspectiva diferente de nós mesmos, aumentando nossa sensibilidade e flexibilidade diante dos desafios da vida.

Engajar-se em ações alinhadas com nossos valores mais profundos não apenas aumenta nossa sensação de significado, mas também amplia a gama de escolhas comportamentais disponíveis para nós. Ao fazer isso, abrimos caminho para uma vida mais autêntica e satisfatória, onde a variação comportamental é guiada não pelo controle rígido, mas sim pela conexão com o que é verdadeiramente importante para nós.

A promoção da abertura, atenção e engajamento é fundamental para facilitar mudanças e converter uma situação de sofrimento em uma existência mais significativa. Embora haja ainda muito a ser investigado, os conhecimentos atuais nos capacitam a transitar de um modelo classificador de doenças para uma abordagem mais funcional e contextualizada dos mecanismos que permeiam o sofrimento humano.



6 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page